terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Como é o sistema de saúde daqui?

Sempre que comparamos nosso país com qualquer outro de 1º mundo, a tendência é dizer que tudo fora do Brasil é melhor. E foi isso que ouvimos a respeito do sistema de saúde do Canadá. Para começo de conversa, aqui o sistema é público, acessível para todos, o que já é um passo a frente. Outra qualidade positiva é o cuidado em manter tudo atualizado, novo, com manutenção dos aparelhos em dia, com uma estética bonita. Em nada, nesse aspecto, nos lembra os hospitais públicos do Brasil.

O que me chamou atenção - positivamente, a princípio - foi que aqui eles possuem 'walk in clinics', ou seja, algo similar com os prontos socorros do Brasil. Mas o interessante é que eles são em grande quantidades e em lugares inusitados. Por exemplo, nós costumamos ir em uma clínica de emergência que fica dentro de uma grande rede de supermercado. É isso mesmo, no mesmo lugar onde você pode fazer as compras dos alimentos da semana ou de algum objeto para casa, até mesmo roupa, você encontra uma clínica de emergência e uma farmácia. Todos juntos dividindo o mesmo espaço. Na primeira vez que nós tivemos que ir a uma emergência, tanto eu quanto Luciana ficamos meio perdidos sem entender como que uma clínica ficaria dentro do supermercado.

O processo é o mesmo, você chega, entrega sua carteirinha de saúde pública do governo, no nosso caso o Manitoba Health, espera ser chamado e o médico (clínico geral) irá te atender. Essa clínicas são para quem ta com pressa ou alguma emergência não tão grave.

Aqui também tem os hospitais, grandes, modernos, equipados, no entanto muito, mas muito ruim de serviço. Você chega na recepção, triagem, e você vai esperar no mínimo uma hora para alguém te chamar e te encaminhar para a sala do médico. Isso que, você procura hospital quando o problema é mais sério ou quando uma clínica está lotada e não aceita mais pacientes.

Tivemos uma primeira e traumática experiência no hospital. No caso, Luciana estava com muitas dores de garganta (faringite grave). Depois de esperar mais de 1 hora pela triagem, fomos encaminhados para a sala do médico para esperar por ele por mais 2 horas. Ou seja, a pessoa chega com uma queixa de dor e tem que esperar, no mínimo, 3 horas para que alguém apareça. Só que não termina por ai, para os médicos te receitarem um medicamento - antibiótico - você precisa estar praticamente morrendo, caso contrário eles falam para você ir para casa e tomar água. Isso mesmo, foi exatamente o que o médico da Luciana falou. Esperamos 2 horas, ele consultou ela em 5 minutos e disse que o que ela tinha deveria ser um vírus, e "receitou" água e descanso.

Outra coisa que chamou atenção foi que nesse hospital todo equipado e moderno com mais de 25 baias e somente um médico atendendo.

No mês de dezembro tive que realizar um raio-x para verificar meu pé direito. Você vai a uma clínica de raio-x (tudo gratuito) e realiza o exame. Ao invés de você ir encontrar o médico para ele analisar o raio-x na sua frente e te dar um retorno, eles funcionam assim; O raio-x é encaminhado ao médico, quando ele tiver uma oportunidade ele irá examinar, SE ele achar algo grave ele te liga, se não, você nunca ficará sabendo o que apareceu no raio-x.

Eu sei que eu tenho um problema no 'sesamoide' que é um pequeno osso localizado embaixo do dedão do pé, porque em dezembro de 2016 eu realizei diversos exames e um ortopedista - que me atendeu na emergência - pediu exames e constatou. Então já sei que tenho esse problema e já vim para o Canadá com ele. Mas se fosse depender dos médicos aqui, eu jamais saberia. Espero até hoje a ligação para falar do meu raio-x. Ontem (12 de fevereiro de 2018) eu voltei ao médico com dores muito piores, chegando lá ele me pergunta: - E como eu posso te ajudar?
Oi, como assim? Você é o médico, você que me diga como pode me ajudar. Ele enquanto clínico geral queria somente me passar medicamento para dor. Eu exigi uma consulta com ortopedista.

Ai começa outra novela, ele escreveu um e-mail para um ortopedista, que eu não sei o nome e nem onde trabalha, pedindo para quando DER ele me examine.

Sigo com o pé ruim, de atestado médico, tomando remédio que ataca o estômago e esperando que alguém me examine para acharmos a melhor solução de cura para o pé.

Então, tudo tem seus prós e contras. É incrível que o governo proporcione para todos a igualdade de acessibilidade a saúde. Todos são tratados com igualdade, inclusive, não tem preferencial para idosos, ou gestantes. Todos são iguais (confesso que isso também nos causou estranheza). Mas o lado negativo são esses; médicos não tão preparados, tempo de espera muito grande, imprecisão de resultados, difícil acessibilidade a médicos específicos.
No entanto tem as facilidades de por exemplo, ter uma clínica médica dentro de um supermercado com alguns médicos prontos para atender uma quantidade pequena de pacientes.

Aqui também tem a cultura do 'family doctor', ou seja, toda família tem seu médico pessoal - gratuito -. Onde ele acompanha os membros da família, realiza exames, mantém sua ficha médica, receita remédio se for preciso e etc... E em casos mais graves, se for necessário, vai até sua residencia prestar socorro.

Um detalhe para finalizar, caso você precise de um atestado médico você terá que pagar 20 dólares por ele.

Outro detalhe, bem diferente do Brasil, aqui você só consegue comprar medicamentos com receita médica. O médico te receita, você vai até a farmácia e eles fazem na hora com as indicações de quantos tomar, o horário e tudo vem com o seu nome, contato e endereço. E antes de te entregarem, você passa por uma rápida entrevista com a farmacêutica que te explica os efeitos do medicamento. Na farmácia mesmo você só consegue comprar remédios simples como, advil, tylenol e vitaminas. O restante só com prescrição médica.

  

Outra coisa que nos chamou atenção essa semana foi o hospital daqui (Grace Hospital). Essa semana o avô de Luciana teve um infarto e foi levado para esse hospital. Chegando lá, ele foi alojado na ala da emergência, realizaram alguns exames e na sequência subiram com ele para um quarto onde não havia monitoramento 24 horas. Ele precisava trocar um stent há 2 anos atrás e nunca foi feita essa cirurgia. E enquanto ele estava no quarto, ele corria o risco de sofrer outra parada cardíaca. Mas graças a Deus nada aconteceu e hoje (20 de fevereiro) ele foi transferido para um hospital mais capacitado e irá realizar essa cirurgia.

Quando fomos visitá-lo no domingo, uma coisa chamou muita atenção. Ao chegarmos no hospital, nós subimos direto para o quarto. Ninguém nos perguntou onde íamos, ninguém pediu nossas identificações, aliás, o lugar não tinha nem uma recepção. Fiquei chocado, por qualquer um podia entrar no hospital e ir para os quartos dos pacientes sem monitoramento algum. 
Esse tipo de coisa não acontece nem em hospital público do Brasil.

O que prova que nem tudo é perfeito por aqui como dizem.

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